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28 de fev. de 2011

A mente do corpo

“Algo que estávamos retendo nos fazia fracos até verificarmos que éramos nós mesmos”.


Quanto mais aprendemos com a pesquisa do cérebro, mais compreensível se torna a ligação entre mente e doença. O cérebro comanda ou indiretamente influencia todas as funções do corpo: pressão sanguínea, batimentos cardíacos, reação imunológica, hormônios, tudo. Seus mecanismos são ligados por uma rede de alarme e ele dispõe de uma espécie de gênio sinistro, organizador de distúrbios apropriados a nossos mais neuróticos pensamentos.
A antiga expressão “escolha o seu mal” se aplica à semântica e aos símbolos da doença. Se nos sentirmos irritados podemos tornar literal nossa metáfora através de alergias. Há tempos fala-se de “coração partido” como resultado de um relacionamento desapontador. A pesquisa, agora, revela que há uma conexão entre solidão e moléstias cardíacas. Na pesquisa com animais, as doenças cardíacas têm sido provocadas pelo prolongado estímulo de uma região do cérebro associada a emoções fortes. A mesma região se encontra ligada ao sistema imunológico. Assim, o “coração partido” pode transformar-se em uma moléstia coronária; a necessidade de crescer pode resultar em um tumor; a ambivalência numa “dor de cabeça de rachar”; uma personalidade rígida em artrite. Toda metáfora é potencialmente uma realidade literal.
A capacidade do corpo de extrair sentido de uma nova informação, de transformá-la, é a saúde. Se formos flexíveis, capazes de nos adaptar a um ambiente em modificação - quer se trate de um vírus, umidade, cansaço ou polens da primavera - poderemos resistir a um nível bem alto de tensão.
Um conceito recente e radical sobre o sistema imunológico pode nos ajudar a compreender como o “médico interno” mantém a saúde e como ele falha. O corpo, através desse sistema, parece dispor de um modo próprio de “saber”, paralelo àquele pelo qual o cérebro sabe. Esse sistema imunológico é ligado ao cérebro. A sua “mente” tem uma imagem dinâmica do eu e uma impulsão no sentido de transformar os “ruídos” ambientais - inclusive os vírus e alérgenos - em informações. Ela não rejeita certas substâncias ou reage a elas violentamente porque são estranhas, como se acreditava no antigo paradigma, mas por não fazerem sentido, por não poderem se encaixar no sistema ordenado.
Esse sistema imunológico é poderoso e plástico em sua capacidade de extrair significado de seu ambiente, mas como está ligado ao cérebro é vulnerável à tensão psicológica. A pesquisa tem demonstrado que os estados de tensão mental, como aflição e ansiedade, alteram a capacidade do sistema. A razão pela qual, por vezes, “contraímos” um vírus ou temos uma “reação alérgica” é porque esse sistema está funcionando abaixo do normal.
O câncer, é claro, representa uma falha do sistema imunológico. Em diferentes momentos de nossas vidas, quase todos temos células malignas que não se transformam num câncer clínico, porque o sistema imunológico se encarrega delas eficientemente. Dos fatores psicológicos implicados no câncer, o mais evidente é a emoção reprimida.
Vários estudos verificaram que os pacientes de câncer tendem a guardar para si mesmos seus sentimentos e a maior parte não teve com os pais um estreito relacionamento. Acham difícil expressar sua raiva. Um estudo revelou que eles são conformados e controlados, menos autônomos e espontâneos do que aqueles cujos testes mais tarde vieram a se mostrar negativos. Uma cancerologista disse, a respeito dos seus pacientes: “Tipicamente, todos haviam experimentado uma lacuna em suas vidas, desapontamentos, expectativas que não se realizaram. É como se a necessidade de crescer se transformasse em uma metáfora física”.
Mágoas não expressadas podem detonar uma patologia, inibindo o sistema imunológico. Um estudo demonstrou que a morte de um cônjuge resultava em uma queda no nível imunológico nas semanas subseqüentes. Um projeto de Boston verificou um índice de 60% de abortos em mulheres que engravidaram logo depois de haverem perdido um filho pela síndrome da morte infantil súbita. O relatório insistia em que tais mulheres desoladas “deveriam esperar até que o corpo não estivesse mais sentindo os efeitos do pesar”.

O CORPO COMO PADRÃO E PROCESSO

Com o passar dos anos, o corpo se torna uma autobiografia ambulante, falando a amigos e estranhos sobre as pequenas e grandes tensões de nossa vida. Distorções de funções, ocorridas após ferimentos, com a limitação dos movimentos em um braço ferido, se tornam parte permanente do padrão do corpo. A musculatura reflete não apenas velhos ferimentos mas também velhas ansiedades. Atitudes de timidez, e pressão, arrogância ou estoicismo, adotadas cedo na vida, se encerram em nosso corpo como padrões no sistema sensório motor.
No círculo vicioso da patologia corpo-mente, as linhas rígidas do nosso corpo contribuem para os processos mentais fechados. Não podemos separar o mental do físico, o fato da fantasia, o passado do presente. Assim como o corpo sente as aflições da mente, esta sofre com a insistente lembrança do corpo do que a mente costumava sentir, e assim por diante.
Este ciclo pode ser interrompido pelo “trabalho físico” - terapias que de forma profunda (e com freqüência dolorosa) massageiam, manipulam, relaxam ou de qualquer outra forma modificam o sistema neuromuscular, sua orientação quanto à gravidade, sua simetria. Tal transformação do corpo pode afetar com profundidade todo o circuito corpo-mente.
Assim como algumas psicotecnologias aumentam o fluxo da energia no cérebro, permitindo que novos padrões ou mudanças de paradigma ocorram, o trabalho físico altera o fluxo de energia no corpo, liberando-o das velhas “idéias” ou padrões, aumentando a amplitude de seus movimentos. A integração estrutural, o método de Alexander, Feldenkrais, Cinesiologia Aplicada, Bioenergética, Rolfing, Terapia Reichiana e centenas de outros sistemas iniciam a transformação do corpo.
A famosa frase de John Donne, “Nenhum homem é uma ilha”, é tão verdadeira com relação ao nosso corpo como à nossa interdependência social. Tardiamente, meio século depois que deveríamos ter nos valido da sugestão da física, a medicina ocidental está começando a reconhecer que o corpo é um processo - um turbilhão bioelétrico, sensível aos íons positivos, raios cósmicos, resíduos minerais em nossa alimentação, eletricidade disponível em geradores de energia.
A acupuntura e a acupressão, que estimulam determinados pontos sobre os meridianos precisos, mostram como até partes remotas do corpo se encontram ligadas. Quanto mais vemos os efeitos da acupuntura, melhor entendemos por que o tratamento isolado dos sintomas raramente alivia as doenças.
Somos campos oscilantes, dentro de campos maiores. Nossos cérebros respondem ao ritmo dos sons, às pulsações da luz, a cores específicas, as diminutas variações de temperatura. Quando nos empenhamos em uma conversa, mesmo que estejamos apenas ouvindo, entramos em uma sutil “dança” com a outra pessoa, movimentos sincronizados tão suaves que só podem ser detectados se filmados e examinados quadro a quadro.
Estímulos no ambiente afetam o crescimento e as ligações do moldável cérebro humano, desde os seus períodos críticos iniciais até os últimos dias - seu peso, nutrientes, número de células. Mesmo em pessoas idosas, o cérebro físico não perde um número mensurável de células se o ambiente for estimulante.
Se o corpo-mente é um processo, então a doença é um processo... Assim também é a cura, com sete milhões de glóbulos vermelhos do sangue deixando de existir a cada segundo, substituídos por outros sete milhões. Até mesmo nossos ossos são completamente reconstituídos em um período de sete anos. Assim como na dança da deusa Shiva, estamos de modo contínuo criando e destruindo, criando e destruindo.
Wallace Ellerbrock, ex-cirurgião e agora psiquiatra, disse:
“Nós, médicos, parecemos ter uma predileção por substantivos ao darmos nomes às doenças (epilepsia, sarampo, tumor do cérebro), e como essas coisas “merecem” substantivos como nomes, estão, obviamente, elas são coisas - para nós. se pegarmos um desses substantivos - sarampo - e o transformarmos em verbo, então teremos: “Sra Jones, seu garotinho parece estar sarampando”, o que abre as mentes, a nossa e a dela, ao conceito de doença como um processo”.
Ellerbrock tem tratado com êxito inúmeras moléstias ensinando ao paciente à confrontar e aceitar o processo - a prestar atenção. Numa experiência, Ellerbrock instruiu pacientes de acne crônica a reagir a qualquer nova erupção com uma atenção não-crítica. Poderia se olhar no espelho e dizer: “Muito bem, pústulas, ai estão vocês, exatamente onde deveriam estar neste momento”.Os pacientes foram insitados a aceitar a acne, em vez de resistirem a ela com emoções negativas.
Todos os participantes sofriam com a acne, havia 15 ou mais anos, sem melhoras. Os resultados da experiência foram surpreendentes. Alguns pacientes ficaram livres das espinhas, por completo, em algumas semanas. Um processo ativo - medo, ressentimento, negação - vinha mantendo a acne.
A saúde e a doença não nos acontecem simplesmente. São processos ativos induzidos pela harmonia ou desarmonia interior, influenciados pelo nosso estado de consciência, nossa capacidade ou incapacidade de tirarmos partido da experiência. Esse reconhecimento traz de modo implícito responsabilidade e oportunidade. se estamos participando, ainda que de forma inconsciente, no processo da doença, podemos então optar pela saúde.

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